Ditados e provérbios populares
Compadre e comadre, tem coisa mais interessante e mais
expressiva na cultura de um povo do que os ditados populares? Acredito que há
muitas outras coisas interessantes e expressivas na escola da vida, mas os provérbios
são especiais porque são verdades e as verdades nunca morrem, além de serem libertadoras.
Gerações vêm, vivem, e se vão, mas elas deixam os legados dos
ditados. Há alguns deles que têm centenas e milhares de anos. Os ditados populares
têm a ver com os valores de um povo, sua filosofia de vida, sua moral, sua
religião, e seus bons ou maus costumes, seu senso comum.
Acredito que todos os ditados populares surgiram baseados em
dados vividos por algum protagonista e tomaram corpos, vivendo durante anos na
língua do povo e talvez nunca se perderão, espero que não, pois são riquezas da
nossa língua.
Meu querido e minha querida que está lendo este texto,
reflita sobre o que eu vou te perguntar. Você acha que as pessoas seriam mesmo capazes
de inventar os ditados e as lendas, apenas usando a imaginação? Você acredita que
é possível aumentar, mas nunca inventar uma história, ou você acha mesmo que os
indivíduos gostam mesmo é de colocar uma lenha na fogueira?
Os ditados populares ou provérbios são tão ricos que eu
acredito que as pessoas façam uso deles pelo menos 3 vezes na semana,
independente do ambiente que estiverem.
Veja só.
Comadre, você viu só que aconteceu com o compadre Joaquim? Ele
estava trabalhando em dois empregos, mas não deu conta e perdeu os dois.
Antes ele do que eu hein? Antes um pássaro na mão do que
dois voando. E agora a vida profissional do compadre está tão sem novidades,
que se eu pergunto como ele está, ele me diz que está mais parado que água de
poço.
Coitado do compadre, agora está de mãos abanando e acabou
dando sorte para o azar.
Quando o compadre vai jantar na minha casa, ele está tão
revoltado que vira o cocho, e sai sem despedir, cuspe no prato que comeu, é
claro né? Barriga cheia goiaba tem bicho. Mas o compadre acaba voltando porque
eu já amarrei este homem pelo estômago.
Mas deixa o compadre para lá, ele deve estar de mau humor,
por isso anda falando de nós pelos cotovelos, mas mal sabe ele que quem fala a
verdade perde amizades, e quem fala demais dá bom dia para cavalo, mas também
quem cala, consente. E eu não ligo de ajudar o compadre, pois quem ajuda aos
pobres empresta a Deus.
Compadre conseguiu uma carroça, para vender morango na praça, ele
a ganhou do Paco, que ficou solidário com a situação, compadre achou a carroça
meio velha, mas não reclamou, afinal, cavalo dado não se olha os dentes, a
carroça era do tempo que o meu vô era piá, mas com ela dava para ir até onde o
judas perdeu as botas, sozinho mesmo, pois antes só do que mal acompanhado.
Compadre está tentando se reerguer, pois sabe que de grão em grão a galinha
enche o papo, e Deus escreve certo por linhas tortas, então, cada macaco no seu
galho, sem drama e sem lágrimas de crocodilo. Compadre acha que vai ficar rico
vendendo morango. Juro de pés juntos que estou torcendo por ele, mas já falei
para ir tirando seu cavalinho da chuva, já rasguei o verbo, sem papas na
língua, porque não adianta chorar pelo leite derramado nem pela morte da bezerra,
quer dizer do cavalinho. Todo mundo avisou que compadre estava tentando tapar o
sol com a peneira, mas ele decidiu nadar, nadar e acabou morrendo na praia,
coitado, deu com os burros n’água. Tudo porque acabou dando confiança para
gente errada, porque quem se junta aos porcos farelo come, diga-me com quem
andas que eu direi quem és, farinha do mesmo saco ou maria vai com as
outras. Compadre desbarrancou barranco abaixo com sua carroça, cavalo morreu,
todo mundo avisou, para morrer basta estar vivo. Mas o compadre foi salvo pelo
gongo. Eu avisei para não confiar naquele amigo da onça. Ofereceram outra
carroça para o compadre, como doação, mas ele não aceitou porque gato escaldado
tem medo de água fria né? Como comeu o pão que o diabo amassou, agora compadre
pega transporte público e vai igual uma sardinha enlatada, mas quem não tem cão
caça com gato. Agora compadre está bem mais precavido, melhor prevenir do que
remediar, afinal, o seguro morreu de velho.
Não se preocupe, compadre passa bem. Mas cavalo se foi, e
pagou o pato.
Agora você meu amigo que está lendo, se é que tem alguém
lendo.
Você acha mesmo que quem se junta aos porcos farelo come?
Calado, calada compadre e comadre, quando um burro fala o
outro abaixa a orelha. Eu não acredito que se você anda com alguém do mau você
se torna mal como diz o ditado: Junta-se aos bons e serás como eles, junta-se
aos maus e serás pior que eles. De todos os provérbios, com este eu não
concordo, eu acho que nem todo mundo é tão maria vai com as outras com o perdão
do trocaralho.
Tenho uma prima que chama Regina, Regina tem 38 anos e tem
um filho muito perneta. Eu disse que ter filho era um bicho de sete cabeças, mas se conselho fosse bom era vendido,
mas falei porque, quem avisa amigo é. Paco, filho de Regina, acha que tem o rei
da barriga, eu avisei, que é de pequenino que se torce o pepino, agora que está
grande meu bem, pau que nasce torto não se endireita, ou mija fora da bacia,
ele vive se fazendo se santo do pau oco, mas minha prima vive colocando panos
quentes em qualquer situação, desse jeito o piá não melhora não. Regina me
apertou sem me abraçar me pedindo para ajudar. Eu disse para colocar para
trabalhar porque Deus ajuda quem cedo madruga, ir deitar com as galinhas, mas o
rapaz só quer afogar o ganso, dizendo que têm várias namoradas, porque uma
andorinha só não faz verão. Regina morre de medo que cedo ou tarde venha ave de
mau agouro dizendo maldades sobre seu filho, mas o menino é osso duro de roer,
vive remando contra a maré e nunca dá a mão à palmatória, pinta o sete como
ninguém, eu disse para ela falar com ele, mas quando um não quer dois não
brigam, o marido, que está a distância e também não vale a bosta que o gato enterra, tenta ajudar, mas de boa intenção o inferno está cheio, eu é que não vou me
meter, pois em briga de marido e mulher não se mete a colher, eu vivo dando vários
nós em pingos d’água, no intuito de ajudar, mas é sempre em vão, e Regina vive
colocando a carroça na frente dos bois, quando não faz tempestade em copo d’água.
Às vezes ela dá umas palmadas no menino, não sabe que quem bate esquece, mas
quem apanha não. A esperança é a última que morre, não é? Por isso no caso
dela, manda quem pode e obedece quem tem juízo e besouro rola na bosta e gosta.
Regina acorda cedo para trabalhar, para manter a casa, sabe
que Deus ajuda quem cedo madruga, para alimentar o Paco é uma odisseia, pois o
guri tem Estômago de avestruz, vive apressado, e comendo cru, mas Regina não,
ela é uma mulher forte e batalhadora, trabalha dia e noite, noite e dia, porque
se ferradura trouxesse sorte, burro não puxava carroça. Ela tem pressa que o
menino melhore e tome tento, mas eu digo, a pressa é inimiga da perfeição,
tenha paciência com ele, a carne é fraca, por isso ele está nesta vida, ela
disse, comadre, você acertou na mosca, água mole em pedra dura tanto bate até
que fura. Eu achei melhor ficar calada, porque o homem é senhor do que pensa e
escravo do que fala, não queria dar bom dia para cavalo.
Um belo dia, Paco se apaixonou pela sua professora, e
começou a andar na linha, era um amor platônico. Mas a professora não queria saber
de ninguém não, era vida torta, vida bandida, vivia contado mentiras, e Paco
sabia que a mentira tinha perna curta, mas para professora quem caísse na rede
era peixe, o moço aproveitou, a ocasião fez o ladrão, acabou desviando da linha então.
Os dois saíram para jantar, Paco e a professora, ela pediu para
beber a água que o passarinho não bebe, Paco pediu coca cola para deixar boa
impressão, mas estava armado até os dentes, para xavecar a professora. Todo
mundo sabia que estava arrumando sarna para se coçar dizendo para ele abaixar a
bola, mas Paco era cara de pau, mesmo sabendo que ia se enfiar em briga de
cachorro grande com o marido da professora, para ele o marido não representava
perigo, porque cão que ladra não morde. A não ser que alguém desse com a língua
nos dentes. No final das contas, deu zebra, Paco teve que engolir sapo e ficou
com uma dor de cotovelo. Mas ele sabia que estava se envolvendo com uma espírito de porco, pobre menino, acabou entrando pelo cano, Paco ficou com a
pulga atrás da orelha e meteu o rabo entre as pernas, porém este garoto não dá
ponto sem nó, mesmo sabendo que a rapadura é doce e não é mole não, resolveu
colocar os pingos nos is,
A intenção foi para o brejo igual a vaca, abotoou o paletó,
bateu as botas, mas acabou procurando chifre na cabeça de cavalo, mas ela me prometeu
mundos e fundos, dizia Paco, isso foi um balde de água fria, e agora tenho que
segurar vela para ela e o marido dela. Que história sem pé nem cabeça eu me
meti. Nem consegui tirar minha barriga da miséria. Vou tirar a água do joelho
para refletir um pouco, poxa, penso que achar uma mulher bacana vai ser igual
procurar agulha no palheiro, não quero trocar seis por meia dúzia encontrando outra
maluca como esta. Mas somos parecidos, será mesmo o sujo falando do mal lavado,
acabei vestindo a carapuça. Minha ambição cerrou meu coração, vou tomar um chá
de sumiço porque a ignorância é a mãe de todas as doenças.
Minha mãe tem memória de elefante, ela não esqueceu todas as
mancadas que eu dei, dizia ainda Paco, fui tentar conversar com ela e acabei
enchendo linguiça, mas achei melhor obedecer, no fim a união fez a
força, porque a necessidade fez o sapo pular, roupa suja se lava em casa, e
cada cabeça uma sentença, minha mãe sabe das coisas, panela velha é que faz comida
boa, mesmo sabendo que a grama do vizinho é mais verde que a minha. Acabei aprendendo
a lição, o bom filho a casa retorna, antes tarde do que nunca. O que não tem
remédio remediado está e então depois da tempestade vem a bonança, pois filho
de peixe sabe nadar, e há males que vêm para bem. Homem prevenido minha mãe,
vale por dois. E quanto a professora? Nem tudo que reluz é ouro, e cautela e
caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, agora com ela é nem oito nem
oitenta, o que olhos não vêem o coração não sente. Quanto ao seu marido, ladrão que
rouba ladrão tem cem anos de perdão, erva daninha geada não mata, porque ele é como
ela, calça de veludo cú de fora. Mas eu não digo nada a ninguém, a palavra é de
prata o silêncio é de ouro, eles que se entendam, mais vale um gosto que um tostão
no bolso.
Briguei com meu amigo João, porque ele saiu do trabalho sem
ter outro emprego, e ainda saiu devendo as contas, eu avisei para não vender o
urso sem antes matá-lo, para pobre não prometer e para rico não dever, ele me
disse, no aperto e no perigo se conhece um amigo, prometido é devido, é nóis
irmão. Nós não somos nada parecidos porque os opostos se atraem. Mas isso é
segredo, porque o segredo é a alma do negócio, João é só, não tem ninguém, nem conta
com parentes nem dívida com ausentes. Para bom entendedor meia palavra basta.
João tem uma irmã, que não vale o assento que caga, nem o chão que pisa, boa
pinta, pena que por fora bela viola, e por dentro o pão bolorento, vive
sacaneando os outros porque para ela pimenta no cú dos outros é refresco, mas
um dia ela se deu mal, quem semeia vento colhe tempestade.
Fiz um churrasco em casa, mas para chegar no mercado tinha
que descer a ladeira, João gritou lá de cima, para descer todo santo ajuda. No churrasco
levantei da minha cadeira, e quando voltei estava ocupada, quem sentou me
falou: foi ver o mar, perdeu o lugar, mas mesmo assim não me importei, mas
acabei bebendo e comendo demais e no fim das contas o peixe acabou morrendo
pela boca.
Um amigo das antigas apareceu por lá, quem é vivo sempre
aparece, quem não aparece esquece, mas quem muito aparece tanto lembra que
aborrece, quem vê cara não vê coração. O churrasco acabou, temos marmita para
semana inteira, quem come e guarda, duas vezes tem a mesa, e quem corre por
gosto não cansa. Mas todo mundo foi embora e eu fiquei com toda a bagunça,
porque quanto mais te agachas mais te põem o pé em cima. Eu briguei com meus amigos,
juraram que iam ajudar, mas desconfiei, quem mais jura é quem mais mente, mas
quem não deve não teme. E ajudaram, porque no outro churrasco eu fiquei de
barriga pro ar, quem não chora não mama, quem não arrisca não petisca, quem ri
por último ri melhor, ou não entendeu a piada. Ficaram chateados, e me
responderam mal, quem diz o que quer, ouve o que não quer. Mas para descontrair
começamos a cantar, quem canta seus males espanta.
Amaury está namorando uma moça esquisita, quem ama o feio
bonito ele parece. Viajaram para um lugar desconhecido, mas sem preocupação e
cerimônia, compadre e comadre, quem tem boca vai à Roma, entrou na chuva é para
se molhar, o que é um peido para quem está cagado?
Acabaram se perdendo, brincaram com fogo e se queimaram, quem
mandou não levar mapa.
Sentaram num restaurante, mas foram mal servidos porque
pagaram adiantado, acharam uns amigos, mas já era meia noite, estavam exaustos
e com fome, restaurante ruim. Amigos disseram, quem tarde vem come o que
trouxer, ficaram encabulados, mas tudo bem, amigos, amigos, negócios à parte. Quem
tudo quer tudo perde.
Amaury está apaixonado, parece que viu o passarinho verde,
mas não gosta que brinquem com isso porque toda brincadeira tem um fundo de verdade,
pior cego é o que não quer ver. Até porque coração é terra que ninguém pisa, e
se não der certo, vão os anéis e ficam os dedos, tristeza não paga dívidas. Mas
Amaury sempre acredita no conto do vigário e fica a ver navios nas mãos das
mulheres, acaba com a corda no pescoço por acreditar em histórias do arco da
velha, vai ficando um chato de galocha com suas lamentações, fala mal das
garotas e todos riem e comentam: quem desdenha quer comprar, quem tem burro e
anda a pé é mais burro, se sabe o que eu sei cala-te e me calarei. Mas Amaury sempre
tem respostas na ponta da língua, fala mais que o homem e da cobra, sempre quer
dar um passo maior que a perna, fica com um olho no peixe e outro no gato, jogando
verde para colher maduro. Eu digo para ele, Amaury, não seja preguiçoso para não
trabalhar dobrado, em terra de cego quem tem olho é rei, e os últimos serão os
primeiros. Ele sofre pelo passado, e fica ansioso pelo presente, mas já disse a
ele que águas passadas não movem moinhos e para ficar sossegado porque à noite
todos os gatos são pardos. Amaury acha que vai achar a solução para os seus
problemas em casa, e procurou por ela de cabo a rabo. Eu sempre falo que santo
de casa não faz milagre e que na casa de ferreiro o espeto é de pau.
Ele me agradeceu a ajuda, assim como a Regina, o Paco o João
e o Amaury,
Eu respondi: relaxa compadre e compadre, estamos aqui para o
que der e vier, porque uma mão lava a outra e as duas lavam a cara.
Você comadre e compadre, lendo este texto maluco, eu não
estou sobre nenhum efeito de ilícitos, só não quero que nossos amigos
provérbios batam as botas com o passar dos tempos, porque são relíquias e valem
tesouros, se você concorda comigo, use e abuse, para que futuramente nossas
conversas não fiquem mais paradas que águas de poços e que fiquem divertidas
com verdades de alguém. Porque a verdade, meus caros e queridos, dói mais do
que bala de carabina, mas liberta. E desça para terra homem ou mulher, porque
se você vem com a farinha para me sujar, eu já estou com o bolo e cobertura
para te melar.
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