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domingo, 3 de junho de 2018

Mimimi? Primeiro espetáculo... E Minha relação de amor com o palco!




Salve meus queridos amigos e leitores, hoje venho compartilhar uma experiência que me trouxe muito autoconhecimento e mudou minha vida desde que comecei nessa trajetória.
Eu sempre apreciei a arte desde que estava na barriga da minha mãe, esse é um fato inquestionável, carrego arte na minha pele, no meu sangue e sobretudo na minha alma. Nesse trajeto conheci pessoas, em formas de anjos que acreditaram em mim e me fizeram acreditar em coisas que eu não enxergava me mostrando o mundo de uma forma diferenciada, mas obviamente isso não seria possível se não estivesse aberta para tal experiência. Às vezes a verdade vem no nosso nariz, o universo nos presenteia a primeira vista com um balde de água fria, mas que na verdade era uma banheira de água quente com pétalas e perfume, desde que queiramos ver assim.






No início deste ano, iniciei um curso de teatro porque meu coração assim pedia. Quando cheguei em São Paulo, há alguns anos, fiz alguns meses numa oficina que era algo muito amador, que me desencorajou me fazendo acreditar que eu não servia para aquilo, talvez eu não via que servia naquele momento, nem sempre o inferno é o outro e nem sempre a culpa é das estrelas. Às vezes é tudo culpa nossa mesmo.
Nesse ano, conheci mestres que me viram além de uma guriazinha com sotaque sulista e me fizeram ver que dentro desta carapuça existe uma mulher e não uma menininha birrenta, (às vezes ela atua, mas é tudo teatro) com o perdão do trocaralho.
Muitas coisas aconteceram nessa etapa. A dúvida, a incerteza de estar ou não no caminho certo, de ter ou não nascido para isso e o porquê dos porquês, afinal, a morte em vida chega quando paramos de questionar verdades duras e absolutas. Foi aí que eu vi que sim, tinha luz no fim no túnel, tinha pedras no caminho e percalços, mas a vitória estava nesta caminhada e não necessariamente no espetáculo, pois é a peleia que nos faz crescer. Já dizia meu pai: não tá morto quem peleia.





Aulas semanais que hora me excitavam e me traziam a libido e outras que me mostravam que eu não era nada além de um ser humano errando mas tentando acertar.
Minha turma era muito mais jovem do que eu e eu passei a admirar os mais novos, pois aprendi com eles a ser mais leve não sendo tão dura comigo mesma nem com o outro.
Foi um caminho longo e intenso brigando com o ego dos egocêntricos demais com a certeza que se as pessoas não aprendem com amor, aprendem pela dor mesmo, porque a melhor escola é a vida. Ninguém morre sem entender ou aprender o que é necessário aprender. Entendi meus limites, testei minha paciência, aprendi a lidar com pensamentos e ideias diferentes da minha amando o outro e sua história e julgando menos, depois de julgar muito obviamente, sei bem que sou limitada, ainda bem que eu tenho a consciência disso, muitos morrem nessa exata ignorância.
Foi um semestre de muito aprendizado, de muita ansiedade, de muito choro, cerveja, e alegria além dos maços de cigarros.





Meses escrevendo texto, enxugando texto mesmo que na torcida do pano das palavras não saia água, e sim dúvida e repertório de novas palavras. Sempre ouvindo: - não tenha medo de cortar texto, o menos pode ser mais.  Já dizia o mestre Fábio, eita homem abençoado, um incrível ator e professor.
E assim, o mestre me escolheu para narrar toda a peça. Aí entrou a hedi criativa, a hedi escritora, a hedi em dúvida, a hedi aflita e sobretudo a hedi viva.
Meu colega de cena foi a pessoa que mais aprendi neste período porque éramos água e óleo, mas entendi que se chacoalhasse os dois se misturavam por um momento e sim, foi nesses momentos que conseguimos nos encontrar para fazer o nosso texto. Ele tinha muito talento, mas também tinha sombra além de dor, assim como todos nós, ufaaa, finalmente tínhamos toda a narrativa para todas as cenas, fui contagiada pelo rap pois ele era um artista do rap, e quando vi, minhas falas já estavam cantadas mesmo eu não querendo isso, mas estava da hora.
E assim, Na ultima semana uma surpresa desagradável, meu colega que ia contracenar comigo  resolveu sair de cena e ir embora, com um simples e direto:
- vão todos se foder!
Meu povo, dedo no cú e gritaria seria pouco...
O rap me deixou com a mão e mente vazia, o rap não, o colega que fazia rap. Porém o rap teve compaixão de mim e pegou na minha mão. E eu amei, porque o rap sempre gritou meus demônios internos mas também me fez dar voz e ser ouvida quando ninguém tinha tempo para escutar. Mas ai os anjos saíram tudo do túnel do medo e assim voamos.






O grupo todo se contagiou com aquele comportamento, porque sim, todo mundo estava fodido naquele momento. E nosso mestre manteve-se na pose. Não é a toa que ele é mestre. Se comportou como tal. O cara é mesmo foda.
E aí, eu peguei o abacaxi para descascar, no começo eu fiquei perdida confusa e sem saber muito bem o que fazer. Mas ai lembrei que abacaxi é minha fruta favorita e para comer tem que descascar. Foi então que eu peguei o texto, mastiguei, engoli e digeri, e o transformei em dois personagens: o tempo e a memória que teoricamente seriam dois atores em um.
Logo eu que sempre questionei o tempo e o que ele faz com as pessoas. Minha personagem era a memória, e minhas memórias são profundas, mas todas me fazem lembrar que respiro e que estou mais viva do que nunca e aprendo todos os dias com elas mesmo que algumas me tragam as lágrimas mais salgadas que o mar.
O mestre me deu mais uma tarefa:
- Hedí, você que mexe com moda, se formou nisso, você pode ajudar com o figurino.
Foi um puta desafio, eu não pegava numa agulha fazia tempo. 

O mais louco é que o mestre confiou em mim de novo, mas no fundo estava todo mundo desesperado para dar conta e não decepcionar o público depois que o artista de rap mandou todo mundo a merda, a gente não queria que o público fizesse o mesmo. Queríamos alimentar todo mundo com arte porque barriga cheia não reclama.






Como eu ia costurar sem maquina e como eu ia costurar depois de 7 anos sem costurar? Eu fiquei uma semana sem dormir produzindo na cama com a cabeça fritando ideias. E veio a inspiração. A ideia era fazer uma roupa para o meu colega com formato de furacão, cinza, pois o tempo arrasta, ele é tão subjetivo que não se explica, assim como o amor, só quem sente entende, e cada coração é único. E eu seria a memória com sua delicadeza e saudosismo deixando as marcas no tempo, a ideia era colocar penduricalhos na minha roupa e no decorrer da apresentação colar no furacão os penduricalhos como se a memoria deixasse marcas no tempo.
Minha intuição foi foda porque fiz a roupa do tempo primeiro, costurei tudo a mão durante umas 8 horas, deixei meus afazeres, meu tcc da pós para me dedicar a isso. E aí nosso colega vazou. Acho que eu já estava sentindo que isso ia acontecer e acertei de ter deixado a minha roupa para lá, porque a dele serviu para mim.
Resumindo, o que não tem remédio remediado está. Eu usei a roupa do tempo, e vesti junto com o furacão os dois personagens.
Os últimos ensaios foram um fiasco, subimos na estréia sem saber como íamos acabar. 

Tive que engolir o texto dos dois personagens goela abaixo, e mesmo eu tendo escrito parte do texto com a ajuda do meu irmão de coração Gabis (prodígio em pessoa) que não participou porque viajou na estreia, ainda assim me sentia pressionada e sabia que talvez teria que entrar com improviso se desse branco na hora de dar o texto.






O palco é um lugar de respeito e eu fiz questão de agradecer ao Deus do universo, tocar o chão, pisar com o pé direito porque ali eu precisava deixar uma mensagem, e era naquele momento.
O sentimento não se explica, é algo tão intenso, que parece que te faz flutuar. Naquele momento eu percebi que minha vida é o palco e eu o respeito como respeito a minha vida.
Acredito que essa apresentação ficará para sempre no meu coração, porque foi o que mais me desafiou nos últimos meses, foi o que mais me fez ter resiliência e sobretudo o que mais me fez respeitar aquilo que estou fazendo além da ansiedade, dor de barriga, e caganeira, heheh.
Não saí totalmente satisfeita da primeira apresentação porque eu esqueci texto, improvisei mas não na forma que eu gostaria. é a comadre auto cobrança que deveria ser auto confiança, que come a gente vivo, pior que canibal Mas os aplausos do final alimentaram meu ser e principalmente as pessoas queridas que foram me assistir encheram meu coração de alegria. 





Convidei muita gente para ir. As pessoas que convidei foi porque era importante para mim que estivessem lá, porque acompanham meu trabalho, porque são amigas e porque eu admiro.
Senti muito pelas pessoas que dizem ser amigas e que não compareceram por motivos irrisórios. Isso me fez ver que preciso repensar algumas amizades.
A última apresentação foi ontem, 02 de junho de 2018 e essa data marcou minha vida.
Ontem senti que dei meu melhor e não faria nada diferente, aprendi com os erros da estreia, dancei, sorri, gritei e chorei como se não houvesse amanhã. Duas pessoas que compõem minha família e meu sangue viajaram kms para me ver,  sou grata a Deus por isso. Meu pai não veio, e isso partiu meu coração, aprendi que quem veio é porque era para vir. Um casal de amigos que eu conheço há pouco tempo mas sinto como se fossem da minha família estavam lá, e isso me emocionou muito, não consigo nem definir o sentimento bom que me trouxeram. Além da comadre, minha polaca preferida.
Sou eternamente grata a todos meus amigos da turma, aprendi muito com eles, e  sinto que nossa energia foi incrível, mesmo com nossos limites e diferenças.
Agradeço também ao meu maninho da turma, meu irmão de coração o Gabriel, que se mostrou um grande amigo em toda essa trajetória, escrevemos juntos, fotografamos juntos, rimos, bebemos e falamos da vida, admiro muito a força deste jovem piá que escreveu um belo texto no início, tivemos que enxugar mas me deu muita inspiração para refazer o texto final, a Aline pela prontidão e sedução, além de ter se mostrado uma guria muito querida e solidária. Bruno pela crítica e pelas reflexões, Ray pelas risadas e reboladas, Vilson pela maturidade e humildade mesmo com tão pouca idade, João pela força, garra e dedicação, Rafa pela acolhida e empatia ( você só foi chata de ter pedido para o João não usar a gravata que eu comprei, isso foi uma afronta, te pego na saída terça, brincadeira). Natália pela sensibilidade e pela voz maravilhosa, Danyel por não ter desistido e pelo esforço, Verônica por ser uma querida e uma pessoa forte e dedicada.




Agradeço a escola e ao meu mestre do módulo que é uma pessoa que vou guardar no coração por sua tamanha sensibilidade e grande exemplo de ser humano.
Termino este texto dizendo que minha vida é o palco com ou sem aplausos. E agradeço a todos aqueles que me apoiaram direta ou indiretamente. E digo para quem assistiu que foi por muito amor para e por vocês.
Nada mais gratificante que você fazer parte de um espetáculo que você traz em pauta tudo aquilo que você acredita, principalmente porque disse coisas em forma de atuação de tudo que te representa e gerou nos expectadores reflexões apresentando saídas positivas para problemas sociais atuais. Nada mais contagiante que o exemplo que arrasta. 
Será que nossas mazelas atuais são mesmo mimimi? ou são vocês que não estão nem aí?

A peça abordou temas como relacionamento abusivo, toxidade nas relações, preconceito racial e sexual, regalias que os ricos compram, falta e oportunidade para os melhores de renda baixa  para dar vez a quem tem dinheiro e prestigio, deturpação de valores , estereotipo familiar não ideal dentre outras coisas que fazem parte da nossa realidade.

Minha maior tristeza ao relatar essa apresentação é que ela não foi gravada e vai ficar na memória do meu personagem, a memória, que eu espero que o tempo assim como o rap não se apague.

Os figurinos dos meus colegas foram pintados à mão, fiz tudo dentro de um quarto, gastei horas no Brás atrás das ferramentas de improviso para preparar os trajes. E constarei minha roupa a mão com uma linha e um alfinete.


Nas fotos seguintes apresento os figurinos dos colegas feitos por mim e pintados a mão com os personagens que representaram. E os vídeos dos bastidores!
obrigada pela sua audiência, paciência, por ser esta pessoa maravilhosa e Tchau!





Para não perder o costume, onde eu estou surgem os gatos, eu tentei pegar este gato no colo, só tentei!

Expectativa X Realidade


















Personagem da Rafa: Intolerante e repressora!


Personagem do João: Filho do juiz que passa no teste para TV porque o pai comprou o teste, e um alienado pelo sistema.




Personagem do Vilson: Menino Homossexual que sonhava em ser ator, e assistente do diretor que apoiou venda do teste para o juiz



Personagem da Aline: Cena 3 Menina sonhadora, honesta, cena 4 intolerante e repressora.




Personagem Verônica: Mulher que sofria relacionamento abusivo e tinha o sonho de se casar, porém, cai na realidade e acaba com o abuso.





Personagem do Ray: inicialmente preconceituoso e intolerante, no final da cena minoria homossexual que luta pelos direitos




Personagem Danyel: Homem abusivo e pai intolerante.




Personagem da Naty: Menina que sai de casa porque a família não aceita sua escolha de ser atriz e ajuda a mãe a sair do relacionamento abusivo.





Personagem do Bruno: trouxe a crítica das minorias sociais que sofrem preconceito



Minha personagem: Narradora na voz do tempo e da memória




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