Neste
textinho vou compartilhar com os compadres e as comadres uma sensação: A sensação de
saltar de paraquedas.
É meio
ambíguo e paradoxal falar da senhorita sensação, seria mais sensato dizer no
plural esta comadre, porque é impossível sentir um tipo só.
Se você já
saltou pode ser que tenha sentido algo parecido, se está pensando em saltar,
vai saber mais ou menos como é, apesar de que cada cabeça tem sua sentença, e
se não saltou talvez você desista ou tenha certeza do que quer ou não quer
fazer.
Vou
compartilhar a minha experiência, e a de alguns amigos.
Quando você
chega no local, é inevitável olhar para o céu, se você já curtia o céu, vai
curtir muito mais, você olha porque vai ver um monte de baguais saltando. Aí
pensa, se eles podem, eu também posso, aí vai dando um friozinho na barriga
conforme você vai se aproximando. Lá chegando, vai vir um instrutor que vai te
falar todas as manhas, até porque você não manja nada dos paranauês, não faz
ideia do desfecho da situação futura, o piá vai te passar as informações,
posições que deverá ficar, e vai pedir para você vestir um macacão. Até aí tudo
bem, tranquilo e favorável. Você é convidado a subir no avião, nada mais nada
menos que um Cessna, aeronave supimpa que custa um pouco mais de um milhão, aí
você pára e pensa, se eu morrer, vou morrer de forma chique. Você se acomoda no
banquinho e o piloto está decolando comendo uma maçã, você pensa que está vendo
esta cena porque o cara deve ter experiência, e tinha, devia ter seu cinquenta
e tantos anos. Mas que é muito auto segurança pilotar comendo uma maçã é,
enfim, isso te deixa reflexivo.
O instrutor
está colado em você e você começa a pegar altitude, dá um frio na barriga, mas
nada fora do comum, você pensa em arregar, mas não quer pagar de covarde, ao
mesmo tempo que pensa no seu pet, em quem irá alimentá-lo se você não voltar,
que deveria ter dito aos seus pais que os amava, que esqueceu a janela do
quarto aberta e pode chover, que esqueceu a roupa no varal, porque sim, você
pensa que é um salto sem volta, e você reflete, quem precisa disso para sua
vida? Eu poderia estar no chão, em casa, sem perigo e risco, sinto que caí de
paraquedas aqui, estou tri arrependido nível hard, não estou pronto para
morrer, eu não cumpri ainda minha missão aqui na terra, por que eu fui procurar
o chifre na cabeça do cavalo baio? Aí você se alto chacoalha para parar com os
melindres e focar na missão, mas aí está
ficando alto, e o piloto precisa voltar sozinho, porque dizem as más línguas
que quem desistiu lá em cima, comeu o pão que o diabo amassou se voltou com o
piloto, com direito a efeito G e todas as patifarias para castigar aquele que
se cagou de medo, ou melhor, arregou mesmo e não quis saltar.
O instrutor
aponta no relógio que está chegando a hora, que os 12.000 pés estão próximos, e
chegou sua vez.
Você fica na
posição indicada, já está com as pernas e pés fora do avião, não tem mais
jeito, ou vai ou vai.
Você cai,
nesta hora, é indescritível a sensação, está em queda livre, grudado em outra
pessoa, eu só pensava que ia espatifar se o paraquedas não abrisse porque por
azar, meu instrutor estava acima do peso, a queda livre durou uns segundos,
nessa hora, mesmo que esteja com olho aberto você não vê nadica de nada, aquele óculos atrapalha sem cerimônia, imagine que você é um foguete em forma de humano, se o foguete tivesse
sentimentos ele diria que seria você nesta hora.
Seu
instrutor não dá um pio, e você se pergunta se o cara está acordado e se vai
lembrar de puxar a cordinha, mas você é bonzinho e não se intromete, pois
aprendeu a obedecer. Daqui a pouco você sente um solavanco. Uma pancadinha
assim de leve, ufaaaaa. O paraquedas abriu, nesta hora você enxerga seu pé
passeando pelo céu azul, vai para cá e para lá como se fosse um pássaro, você é
autorizado a manobrar o paraquedas e você faz, pois, o pior já passou, mas você
ainda vê coisas e pessoas em miniatura porque está bem alto compadre,
barbaridade. Será que o pior já passou, será que agora estamos livres de
problemas? Só que não. Aí vocês vão chegando perto do chão, e se você tiver
sorte você faz a posição indicada, segura as pernas e cai de bunda, sem
impacto, feliz e sorridente. Acabou e você está vivinho em folha. Se você tiver
pouca sorte, você cai numa velocidade muito além do imaginado, de bunda, devido
a querida comadre rajada de vento que resolveu te visitar agorinha, na horinha
da sua querida descidinha. Em seguida cai o instrutor em cima de você, quase ao
mesmo tempo, você literalmente nesta hora quebra o rabo. Sim compadre e
comadre, isso pode acontecer, e não é legal, você fica uns 4 meses lembrando do
seu salto toda vez que se mexe.
Valeu a
pena?
Sim, sempre
vale, quem não gosta de vento no rosto, adrenalina, e uma aventura às vezes?
Saltar de paraquedas te proporciona inúmeras
sensações, te faz ficar de cara com a dúvida de não saber se aquele vai ser seu
último suspiro, ou último momento maluco, te faz ficar de cara com a morte, de cara com o inevitável, te
faz sentir medo, ansiedade, receio, alegria, arrepio e tudo ao mesmo tempo,
testa seu cardio para ver se você está com o coração bom. Isso é estar vivo, é
sentir tudo a flor da pele, e você precisa decidir, se vai ou se fica, se
arrega ou se salta.
Saltar de
paraquedas é fazer escolha, é abrir mão, é ganhar mão, é aquela sensação de não
sabe se vai ou se fica, não sabe se fica ou se vai, se você não for vai passar
o resto da vida se perguntando como teria sido, e não há nada mais triste do
que chegar num momento da vida querendo saber porque não foi.
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