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terça-feira, 8 de novembro de 2016

O que importa tem raiz!

O que importa tem raiz!


Comadre e compadre, hoje eu vou falar das nossas raízes, aquelas que nos anunciam e nos denunciam. Hoje encontramos todo tipo de gente. Aqueles que negam as raízes, mas quando abrem a boca não tem como evitar que não são daqui ou dali, sabe aquele sotaque? Então, ele mesmo, é o dedo duro, o x-9 da vida do povo. Tem aquele compadre que nega a raiz de um nível tão hard da estrela, que ele se expressa e é tão ator, que você nunca vai saber de onde ele veio, o cara é bom, engana, e muito bem. E você bobalhão, não tem noção de onde vem não.
E tem o cara tipo eu, aquele que ama de onde veio, que abre a boca e denuncia, que não perde o sotaque nunca, que já morou em duas cidades com sotaques totalmente distintos, mas que mesmo assim, a raiz condena. Sabe aquele cara que fala cantando? Então...
Sabe aquela comadre que não curtia leite quando era pequena, que sua bebida preferida era o chimarrão, e que ela tomava até o mate ficar lavado, e pedia bis? Porque mate lavado, este é um parceiro que te entende. Mas comadre, você é gaúcha, você é do Sul?  Sim e não, eu sou do Sul, mas sou um pouquinho mais de cima, minha terra é Paraná.
Ah meu Deus quando eu morrer, só uma graça para esperar, me leve logo ao paraíso, me deixe no paraná...

Só que não.


Sinceramente eu preferia ter nascido lá em baixo do mapa, porque eu cresci com a cultura gaúcha, frequentando CTGs (centro de tradição gaúcha) comendo churrasco fogo de chão, costela e afins, dançando, recitando poesia, cantando versos tradicionalistas. Uma gaúcha típica, mas não nata.
Minha cidade tinha dois semáforos ou sinaleiros que não funcionavam direito, a diversão do povo era ir a missa de domingo, tomar sorvete na praça, depois de encher o bucho de chimarrão até ficar verde pós churrasco do almoço, regado a muita carne de primeira, maionese de vó, salada, e pão, bah, delícia, andar de carro pelo centro, que não dava nem para colocar terceira que já tinha que voltar, falar da vida alheia, porque estudar era difícil e dava trabalho.
- Sabe o compadre João? Nem te conto comadre, trocou a esposa do casamento de 40 anos para ficar com uma guria da idade da filha mais nova dele.
- O mundo tá perdido mesmo.
- E o piá do Bartolomeu? Só pensa em vídeo game e ficar o dia inteiro na internet (sabe aquela internet com o E no final bem generoso? É assim que se fala).
Você viu a filha da Jurema? Está namorando o bicho sem futuro do filho do compadre Marcão.
Deixando a ironia de lado, eu gosto da minha cidade, minha vida lá foi maravilhosa, tenho ótimas lembranças, principalmente dos bailes gaúchos que eu ia e dançava até não sentir a sola do meu pé, as comidas deliciosas e o mate amargo, minha cidade era colonizada por gaúchos e eu amava isso, meu sotaque vem de lá, e eu não tenho vergonha de falar leite quente sem cerimônia com um E no fim nada tímido, de falar piá para menino e guria para menina, e barbaridade quando estou embasbacada com algo, de chamar as pessoas que tenho apreço de compadre e comadre, e bagual para homem bom e forte. Não ligo para nada disso, se meu sotaque te incomoda irmão, não fale comigo, simples assim.



A vida é um eterno abrir mão, por conta dele eu sai da minha cidade, eu também sofri “bullying” lá, eita piazada babaca, mas tudo bem, eles não sabiam nem onde a galinha mijava, fui para uma cidade com 15 vezes mais habitantes que a anterior, sofri “bullying” na escola também por conta do sotaque, vi a diferença das pessoas e do povo e assim a vida andou,  vim para uma cidade maior ainda, a maior do país, com tanta diversidade, que eu vi que meu sotaque e o meu mate viraram só um detalhe, eu sou um grão de areia, eu não conheço meu vizinho, ninguém está nem aí se eu to namorando um zé mané e to andando a pé.
Na academia quando faço a aula de abdominal eu digo para a professora que a aula fez meu bucho fritar, ela ri, e só.
Então meus queridos, a raiz está em nós, eu não estou falando só de sotaque e gosto musical, eu estou falando dos nossos valores, daquilo que nos acompanhará por toda nossa vida mesmo quando sabemos que somos metamorfoses o tempo todo, a raiz não sai, a raiz nos define, ela é nosso DNA.
Há coisas que nunca deixamos de amar mesmo sabendo que conhecemos no início da vida, eu ainda me arrepio e sei décor e salteado as canções gaúchas que eu ouvia no carro enquanto ia pro litoral, lembro das poesias declamadas em tempo de invernada. Nossa vida é marcada por detalhes que mesmo que vivêssemos cem anos conseguiríamos esquecer, não digo só do que foi bom, mas do que foi ruim e machucou também, e nós podemos ficar com o que foi bom, sorrindo quando lembramos, e ressignificar o que foi ruim tirando algo importante como lição de vida, aprendizado. Compete-se a nós escolhermos.
Isso sim é evolução, e cada um escolhe o que quer se importar nesta vida louca, curta, maluca, imprevisível, sopro e tri.

(Fim)


“Quem forjou pelos caminhos:
Cavalos, calos e amores;
Bem sabe que os corredores
Não dão guarida e razão.
Pois não é qualquer galpão
Que tem o calor da gente,
Que sabe as coisas que sente,
Fincadas no próprio chão!

Não é que as dores da trilha
Não ensinem a quem anda,
É que a cruzada se agranda
E o que importa tem raíz.
O mundo é puro matiz...
Mas onde quer que se passe,
O chão onde a gente nasce
É o que a gente sempre quis!

Por isso que quem carrega
As manhas de ter andado,
Conserva o solo sagrado
Desenhado nas retinas.
Pois o beijo de outra china,
Não é o da prenda mimosa,
E a terra que não é a nossa
Nos vale o que nos ensina.

Eu sou mais um que já andou
Gastando o aço da espora
Mais da porteira pra fora,
Que da porteira pra dentro.
É certo, não me arrependo,
Porque vivi sem maldade
E aprendi – barbaridade –
Vivendo o meu próprio tempo.”
(Roberto Ponsi e Leandro Gomes)

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