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sábado, 13 de fevereiro de 2021

Minhas percepções sobre o Canadá que a neve não derreteu.

 


Salve família e queridos leitores, devido a pedidos, relato aqui neste texto minha experiência no Canadá. Prepare-se, e sente-se bem confortável, pois relatarei com detalhes e com bastante reflexão.

Primeiramente saliento que quando eu decidi ir para o Canadá para passar poucos meses eu tinha casa e trabalho em São Paulo, porém estava num trabalho que me sentia infeliz e pouco valorizada, sem plano de carreira e trabalhando agregando valor todo dia para construir sonhos dos outros, os meus estavam ficando para trás, tinha algo bem errado nisso então eu decidi me escolher e abrir mão do que não estava bom, para dar espaço para algo melhor ocupar lugar no banco da minha vida. Já dizia minha vó, não espere que a vida te proporcione coisas diferentes se você faz as mesmas escolhas, e tem medo de abandonar a zona de conforto, eu sei, ela é bem quentinha mesmo, principalmente nos dias frios e chuvosos.


Foi muito difícil deixar São Paulo e entregar minha casa, porque eu acredito que São Paulo não tem meio termo, ou você ama ou você odeia, e eu absolutamente amo essa cidade, acho que São Paulo abraça, é a cidade das oportunidades, das comidas de todo o mundo a qualquer hora, o ”ifood“ funciona, apesar de eu sempre ter compaixão dos entregadores. E São Paulo não dorme, se não existe amor em SP eu não sei, mas posso dizer que umas das pessoas mais queridas que eu conheci na minha vida sem titubear foi em São Paulo, eu fui assaltada em SP, atropelada em SP, mas também fui muito feliz em SP e  vivi todas as polaridades que a vida pode oferecer. Foram 10 anos de muito amadurecimento e tenho certeza que uma das escolhas mais assertivas que eu já fiz foi ter deixado meu mundo no sul para ir desvendá-lo numa capital onde absolutamente tudo acontece. Com certeza, se eu não morar em outro país eu ficaria em São Paulo lindamente, principalmente porque São Paulo tem diversidade e quando você coloca o pé na rua você é desafiado e eu adoro isso.

São Paulo, você não é o Canadá mas eu te amo até que a morte nos separe.

Bom, sem mais delongas, vamos  a pauta do texto.




Amigos, uma coisa é mais que certa, tem certas coisas na vida que por mais empático que você seja você não terá imaginação nem feeling para sentir o que eu vou relatar, porque há coisas nessa vida que só vivendo mesmo para entender a intensidade da coisa, não adianta eu dizer para você que eu sei como é perder um ente querido se eu nunca perdi, só quem perde sabe o que é de fato.

Quando você decide viajar para outro país, principalmente sozinho, seja para ficar ou seja para visitar, vou te falar uma coisa, é um ato de solidão cabuloso e também um ato de coragem homérico. Quando você pisa ali no aeroporto de Guarulhos irmão, é você  e Deus, escuta o que eu to te falando. Viajar é um ato solitário e para outro país é tri solitário. Fiquei refletindo muito nessa minha viagem  como deve ser um senhor desafio para quem não fala a língua do país por exemplo, desejo sorte a essas pessoas e que elas encontrem no caminho pessoas dispostas a ajuda-las, eu graças a Deus e graças a mim,  me defendo nos idiomas, então minha ida até o Canadá mesmo com escala, foi sem dificuldade, viajei na pandemia, sozinha no banco triplo do avião e tem um adendo aqui, agora com a pandemia você não decide ir pro Canadá, enche sua mala e simplesmente vai, não faça isso, você precisa de autorização da imigração para entrar, precisa do ETA que é outro documento e sobretudo o exame do corona vírus. É muita burocracia e se você não tiver resposta afirmativa da imigração, postergue a sua viagem.




O fato de viajar para longe, ou para outro país soa para muitos como status, que bobagem, na verdade é uma bela oportunidade mesmo que um pouco dolorosa de você abrir mão de todas as relações que não são recíprocas na sua vida. E eu já experienciei isso em outros momentos, e sempre funciona, é o momento de reciclar relações, pois  as abusivas são como energia parada, tipo aquele lixo que você acumula em casa por ter medo de se desfazer porque acha que vai usar e nunca usa, saca? Acredite, desapegar de coisas e pessoas que não proporcionam crescimento e não suportam sua felicidade é a coisa mais libertadora que existe. E a sensação que isso te traz em longo prazo é incomparável. quer saber quem são seus amigos, mude de cidade, você vai se surpreender. E tem mais, distância não dissolve nada, quem tem vontade, amigo, já tem metade. As pessoas adoram se desculpar para se isentar de sua parte nas relações, já dizia meu paizinho, quem quer dá um jeito quem não quer dá uma desculpa.

Meu voo não foi direto, teve conexão em Toronto. Toronto é uma cidade que as pessoas que comunicam em inglês mas mesmo no avião você podia solicitar coisas em francês ou em inglês, eu me virei em inglês tanto no avião quando no aeroporto.

Chegando em Toronto peguei outro voo para Montreal, o mais legal disso é que imagino que por conta da pandemia eu não precisei despachar a mala de Toronto para Montreal, o que já facilitou bem já que minha mala estava mais pesada que uma vaca.



Quando você vai para Montreal em novembro se prepare para sentir na pele a emoção do que é frio, cinza, e o dia virar noite as 16:00, “jet lag” que nos acuda. São só duas horas a menos, mas faz diferença.

Canadá tem clima extremo, o frio é mesmo bem frio, e nossas roupas aqui do Brasil não aguentam o tranco, eles têm roupas próprias para o clima, posso te dizer assertivamente que eu passo mais frio no Brasil do que lá, mesmo saindo de casa na neve, ou na temperatura -15.

Tudo é climatizado, então dentro de casa é super de boa.

Montreal fica na província do Quebec, é uma cidade com colonização inglesa e francesa, e o mais curioso é que qualquer lugar que você vai você é recebido com “Hi Bonjour”, se você responder “Bonjour” seu atendimento será em francês, se responder “Hello” será em inglês, mas não vai dar um de louco e falar , Hi , ça va, se não quiser se lascar, ou "ta gueule".

É inacreditável como é discrepante a diferença de um país subdesenvolvido e um pais desenvolvido, e meu irmão, desenvolvimento não tem a ver só com o IDH, e a economia de um pais, tem a ver com a educação, o caráter e a cabeça do povo. Pode crer.



Quem vai pro Canadá e não come neve não vai pro Canadá. E como essa realidade de ter neve no inverno com frequência  é diferente do que estamos acostumados, se você fecha os olhos por um instante e da uma divagada, você pode acreditar que esta  em outro planeta. A neve é a coisa mais branca que eu já vi, e as pessoas não tem medo dela, elas correm no parque, caminham na rua como se nada estivesse acontecendo, galera é ativa nível hard, até porque se for parar a vida porque nevou, ninguém faz nada, ser humano se adapta a tudo. Montreal é uma cidade recheada de parques, e neles você vê gente patinando no lago congelado, gente esquiando e o “Hopi Hari “ do Canadá é subir na montanha e escorregar com sua prancha, tem até fila da criançada, e todo mundo entra na dança, inclusive os adultos. O mais incrível é que se você pergunta para qualquer pessoa quem foi o único ser de carne que andou sobre as águas, todo mundo vai dar a mesma resposta: Jesus, mas no Canadá as pessoas andam literalmente em cima da água, porque os lagos formam blocos de gelo, e os funcionários do estado vão até os parques com carrinhos com lixas e preparam  os lagos para a galera patinar, sem contar os caminhos que fazem para o povo esquiar que você não pode pisar se não dá ruim. E tem também os funcionários que são pagos para tirar a neve das ruas e levá-las a lugares mais afastados. Achei mega interessante os tipos de gelo, o gelo que cai do céu em forma de flocos e a água que congela nos lagos. É tudo gelo, mas são gelos diferentes, a neve do Canadense é a areia do Carioca. a neve é mais bonita, só que a sensação de pisar e correr na neve e na areia é bem parecida.

O mais louco é que na natureza não tem miséria, ela nos oferece nos países frios freezers imensos e a gente aqui com um freezer em casa que quase nem cabe muita coisa nos achando o bicho da goiaba, temos muito a aprender...

Há também os parques que as pessoas levam seus cachorros e soltam os bichos por lá, até os cães têm educação, eles brincam no seu espaço sem incomodar o coleguinha. É gente soltando pipa, gente jogando, gente escorregando, gente sentada, gente deitada, ir para o parque virou um hobby, inclusive para mim que era estrangeira.

Os mercados são sedutores, as frutas são diferentes das nossas, eu nunca comi tanta “blueberry” na minha vida, porém algumas frutas que são comuns aqui lá não se acha tão facilmente. Há farmácias que as pessoas entram e se perdem de tanta coisa legal para ver, vendem ate comida por lá, e algumas você entra,  se serve, e passa tudo na maquina, e não fala com ninguém, paga em dinheiro ou cartão, fiquei imaginando isso no Brasil. Quanta gente iria embora com as compras e sem pagar, infelizmente.

Outra coisa muito real é, o Canadá não é tão braços abertos como dizem... para morar no caso. Na realidade você é super bem vindo se tiver educação superior, falar as línguas do lugar e tiver um currículo mais gordo que um Canadense, porque só assim eles abririam mão de dar o emprego para o cidadão de lá para dar o emprego para você. Então não se iluda, se um dia você acordar e decidir ir para o Canada para morar, saiba que é um caminho bem burocrático a ser percorrido. E nem pense em trabalhar ilegal, há uma linha bem tênue entre ser deportado por isso e a ilegalidade. Até porque ninguém merece ficar ilegal em lugar nenhum né? Desculpa a sinceridade.

No Canadá a maconha é liberada, e há lugares específicos que você compra bebidas, você encontra no mercado também, mas vai encontrar mais variedade nesses lugares. O centro é bem simpático, e Montreal especificamente é uma cidade que tem bastante turista, é bonita e fofinha, tem um cemitério lindo e imenso e o contraste do sol sob a neve é bem emocionante, quando a neve cai eu não diria que é romântico, mas que dá para dar uma relaxada vendo os  flocos caírem, ahhh se dá.

Acredito que uma viagem para qualquer país apesar de ser você com você mesmo, porque mesmo que tenha companhia as percepções são bem individuais é uma linda oportunidade de você entender como as outras culturas funcionam, principalmente para aprender com elas, acredito que esse seja o maior propósito, você provar diferentes comidas, sabores, texturas,  bebidas, entender como as pessoas pensam e funcionam.

Penso que o Brasil apesar de ser um pais de contrastes, tem um povo muito, mas muito acolhedor e carismático, tenho certeza que isso é algo bem difícil de bater. Mas também acredito que cada lugar tem a sua peculiaridade, suas mazelas e o contrário dela.

Viajar é o ato corajoso de enxergar o mundo com outros óculos, e refletir sobre o mundo, e sua vida nos momentos de solidão onde você terá certeza que está sozinho. E o melhor de tudo é que mesmo sabendo que ninguém nasceu para ser sozinho, a solidão pode ser uma companhia bem agradável. Você não vai querer voltar quando te encontrar independente de onde esteja.


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