Certo
domingo estava eu pegando o metrô depois de um dia de gravação, e escutei um
adolescente de seus aproximadamente 17 anos dizendo para um amigo de idade
similar a seguinte frase:- Eu tenho um orgasmo quando uso a fórmula de
bhaskara.
Eu não
contive o riso, ao mesmo tempo em que pensei: Oi?
Eu não tenho
um relacionamento de amor pela matemática, mas também não posso dizer que eu a
odeio, coitada, ela nunca me fez nada, mais a minha professora do ensino médio
fez, apanhei igual boi na horta daquela maldita, o que eu não apanhei em casa
dos meus pais eu apanhei da professora Cecília, era um repertório criativo de
palmadas e um pobre repertório de didática. Se não era reguada na cara eram
palmadas e puxões de orelha, e como as reguadas ardiam, o pior não era a dor
física, mas sim a dor emocional e a vergonha, eu era criança e essa foi minha
primeira sensação de passar vergonha em público, o que me comovia um pouco era
que eu nunca apanhava sozinha, isso era horrível pros meus colegas que também
recebiam a surra, foi à primeira manifestação de vergonha alheia para mim, e
quando era minha vez de entrar no calabouço era recíproca a sensação da parte
deles de sentirem a vergonha alheia olhando minhas bochechas ficando vermelhas com
barulho da régua. Mas eu entendia quando olhava para eles o que eles estavam
sentindo, sim, era a mesma coisa que eu, eu não sabia o que era isso ainda, mas
hoje sei quando foi a primeira vez que senti empatia. E isso me comovia, por
pensar que sempre tem alguém com dor parecida ou problema similar.
A matemática
é linda é objetiva, e eu entendi depois de adulta que a prática da matemática é
incrível e ela faz parte da nossa vida o tempo todo, porque todo mundo gosta
quando as coisas têm lógica e tem sentido, ficamos encabulados quando tudo é
complexo demais, quando as relações são complexas, porque isso enche o saco,
conforme aprendemos a viver aprendemos a descomplicar para ter uma vida mais
leve.
Percebi que
eu não gostava da matemática porque eu não a entendia, mas notei que não tem
como gostar de algo que não se conhece, isso serve para comidas, roupas,
pessoas, você raramente compra uma roupa sem experimentá-la, muito menos um
sapato. E se você diz que não gosta de algo ou de alguém que não conhece é
apelidado de hipócrita. Por isso não sou uma pobre vitima da professora Cecília, aqui se faz aqui se paga. A lei do universo é tão justa e exata quanto a lei do ouro e a lei do universo.
Quem usa
equação de segundo grau para comprar sulfite, e quem usa formula de Bhaskara
para ir ao cinema?
Ninguém, porém, eu posso dizer que eu conheci muitas
fórmulas da comadre matemática, passei a me familiarizar com uns números, e não
gostar de outros, consegui entender que as pessoas usam números para dizer
superstições, e que os números podem ser bem legais quando não divertidos,
pessoas ganham dinheiro com números que ao mesmo tempo também são números, e
quanto mais zeros depois da virgula, mas rico você fica, e quando escuta alguém
dizer que fulano é um zero a esquerda, você se afasta, e isso me deixa
introspectiva ao pensar que quando estes significados aparecem, a matemática
pode ficar complexa porque deixa de ser objetiva, a subjetividade impera.
Eu fico
pensando no nosso ensino, tentando entender as séries de coisas que aprendi e
que nunca usei, mas ao mesmo tempo hoje eu entendo que agora talvez isso não
faça sentido, mas no momento que eu tive que aprender aprendi porque faria sentido para
compor um quebra cabeça montado para o futuro.
Eu não devo
pro banco, consigo conferir o troco, sempre devolvo quando me voltam dinheiro a mais, pois ele não me pertence, faço contas e projetos de quanto gastaria
no fim de semana, na compra do mercado, na viagem do final do ano e nunca
faltou dinheiro porque fiz a conta errada, mas nunca sobra muito, ninguém me liga dizendo que vai
colocar meu nome no Serasa, ainda bem.
Então eu
acho que minha matemática não deve ser tão ruim assim, mas não me peça para
usar a fórmula de bhaskara porque você vai me fazer ter uma grande nostalgia,
afinal de contas eu não preciso dela para comprar pão, mas ainda tenho um amigo
que chama Pi, e seu sobrenome é 3,14, e um amigo que fica treze quando vai para
o bar. Resumindo, acho que números são trilegais.
O tempo é exato
e paradoxal, passa rápido quando estamos felizes e devagar quando estamos
tristes, ele demora para curar mais do que resolver uma equação do segundo
grau, e talvez nunca cure, mas dizem por aí que o tempo é rei, e eu já
deixei o problema matemático sem solução, porque não encontrava respostas, e
talvez por isso hoje faço muitas vezes as mesmas perguntas, porque os problemas
da vida não podem ficar sem solução.
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