Nascer e morrer são as únicas certezas que temos na vida, assim
como o sol nasce toda manhã e assim como ele se põe todo fim de tarde. O restante é tudo incerteza, que somos colocados à prova todos os dias, do nascer ao por
do sol um sacrifício nada perfeito e sim completamente imperfeito, uma coisa é
mais que certa, viver nunca foi, nunca é, e nunca será para os fracos, viver é
uma responsabilidade imensa, principalmente porque não vivemos numa bolha, com
exceção daqueles que só enxergam o próprio umbigo e passam o dia, as horas e os
anos olhando para eles, achando que estão olhando para dentro de si mesmos, mera
ilusão dos piores cegos, que são os que não querem ver. O que quero abordar
nesse texto é algo que poucos têm coragem de falar, por medo, por insegurança,
e porque é um tabu falar da única certeza que existe depois que estamos vivos:
a morte.
Até que a morte aconteça, duas certezas acontecem: o ato
sexual dos nossos pais para que estivéssemos aqui agora, o nosso nascimento se
nada der errado. Quando consideramos que uma quantidade considerável de
mulheres perde seus filhos todos os dias, somos sortudos de estarmos aqui,
porque para muitos a vida nem passa do parto, ou seja, não continua, o aborto é
uma dor imensa e inexplicável, somente quem já vivenciou um sabe, nada que eu
disser aqui vai explicar, até porque cada mulher vivência e sofre a sua
maneira. Mas que e muito doloroso. A se é.
Estamos no período mais delicado do século, a pandemia tem
ceifado vidas como um tufão todos os dias, estamos vivendo a presença do sopro
da vida de uma forma tão agressiva nunca antes imaginada, é uma fragilidade
impressionante. Não se fala em outra coisa além da incerteza entre viver um dia
de cada vez e cada dia é uma vitória, pois os que podem estar lendo este texto
hoje, talvez amanhã não estejam mais
nessa dimensão, falar de morte é um tabu, todo mundo sabe que vai morrer, sabe
que seus queridos também vão, e esse assunto é evitado porque pensar que
podemos perder partes de nós quando nossos amores se vão dói, causa um arrepio
na espinha, então o assunto é sempre empurrado com a barriga, com a desculpa
de, na hora certa eu falo sobre isso, ou, não tenho tempo para pensar em algo que não preciso, não
quero consumir minha energia com esse assunto, pensar e falar da morte atrai a
morte, ou desculpas desse tipo para mais. Muita gente só pensa na morte e na
significância da vida quando perde alguém, ahh mas é batata, não tem como
fugir, quando a pessoa que você mais ama na vida parte dessa para melhor, não
tem como fugir, faz parte do luto, se revoltar e entender o sentido da vida, e
a convicção de que sim, a morte vai acontecer, para alguns antes, muitas vezes
pros muito bons antes, e também tem a missão pessoal de cada um que muitas
vezes desconhecemos, isso já entra no mistério da vida. Tem muita sorte aquelas famílias que tem o
presente de conviver com aqueles seres mais amáveis da vida por mais tempo,
pois na maioria das vezes não é assim.
Vivemos num pais, num mundo, numa bolha, cheia de clichês e
de tabus, muitos encaram a morte como um
castigo, algo muito ruim, tão ruim que a gente não fala nela e não reflete
sobre ela pelo amor, mas somente pela dor, porque é cultural, porque o medo
toma conta, é um medo absurdo. Se a morte assim como o sexo fosse abordado na
escola pouparíamos muitos traumas e sofrimentos, pois entenderíamos que a morte
é um processo natural da vida, a vida é um negocio frágil, que tem começo meio
e fim, a natureza nos ensina isso toda hora, quando se planta uma raiz ela se transforma
numa arvore, vive, dá frutos, outras mais outras menos, envelhece, perde sua seiva nutritiva e morre, tudo tem começo
meio e fim.
Mas o fim também é um mistério, pois essa dimensão densa que
vivemos é só uma parte de uma possibilidade infinita de dimensões, aqueles que
deixam o corpo, deixam saudade e deixam essa probabilidade, é um mistério que
ninguém voltou para contar, porque temos a tendência de querer e procurar fervorosamente
resposta para tudo, porém tem coisas que nunca entenderemos tampouco saberemos,
são apenas ideias e reflexões, nem certas nem erradas, apenas diferentes. Na
verdade quando alguém morre a vida não acaba para quem vai, acaba para quem
fica, principalmente se quem foi era uma pessoa muito querida e amada, a
saudade é uma linha bem tênue entre o sofrimento pela falta e as boas lembranças,
se até na saudade há polaridade, imagina no restante da vida, a saudade dói, as
lembranças nos distraem, mas quando voltamos das lembranças a falta se faz
presente de novo, porém, as lamentações os choramingos, o questionamento de como
poderia ter sido, se tivesse sido de uma forma melhor ou diferente, feito isso ou aquilo por aquele que se foi,
pare agora mesmo, acabou para você meu amigo, se você não fez em vida,
convivendo, não há nada mais que possa fazer a não ser aceitar, e parar de
ficar se lamentando, quem foi não merece isso esteja onde estiver, a energia
fica, e contamina, deixe quem foi aproveitar o inicio de uma nova trajetória.
De melhores, mas infinitas possibilidades, se você fica aqui se lamentando e se
vitimizando você impede energeticamente aquele que você amou muito de ser feliz,
energia parada não presta para nada, agradeça pelo que você viveu com aquele
ente, seja um ano ou inúmeros, sorria, chore, sonhe, sinta saudade, viva o
luto, todas as etapas não pule nenhuma, e lembre-se, você sempre soube que se
depararia com a morte, mas foi uma escolha sua deixar essa reflexão para depois,
lembre-se que todos que se foram, cumpriram sua missão aqui, independente de quanto
tempo viveram. Há pessoas que estão com familiares doentes em casa ou no hospital,
no paliativo, segurando a pessoa de n formas extremamente agressivas, meus
amigos, não adianta viver sem saúde, isso é ser escravo da vida, liberte a
pessoa, entregue pro universo, ninguém merece sofrer, nem você nem o outro, as
vezes os familiares seguram, causam sofrimento, porque não querem em hipótese
alguma pensar na morte, mas não entendem que a morte é o descanso para aquele
que sofre, é a possibilidade da libertação,
porem os egos, o egoísmo, nos cega. Se você leu este texto ate aqui agradeço
sua atenção, te trago para a reflexão,
espero que você viva muito e que experimente tudo que te faça feliz, mas não
esqueça da única certeza que a vida tem como polaridade, ela , nada mais nada
menos que ela, a morte. Depois que eu me dei conta do sofrimento daquele que
vira escravo da doença eu passei a entender que a morte pode não ser apenas um
fim, mas um eterno descanso, e todo o sofrimento vivenciado por aquele que
partiu o possibilitou de se preparar para renascer num novo universo cheio de
novas possibilidades e luz pulsante. Apenas deixe ir aquele que precisa brilhar em outro lugar.
Se você assim como eu perdeu alguém muito valioso, eu
entendo também sua dor , mesmo sabendo que cada um vive o seu sofrimento e seu
luto de forma peculiar e particular, quando um artista morre por exemplo ele leva algo que salva muita gente: a arte, que toca
e liberta muitos corações da escravidão. Meu pai era um artista para mim, porque ele tinha o carisma que
muitos não tem, e como os artistas são exemplos pessoais para muitos, meu pai era para mim o maior exemplo. Eu não sinto que perdi apenas um pai,
perdi todas as pessoas especiais que eu conheci juntas e reunidas em uma só
pessoa, pai, mãe, irmão, amigo, tio, tudo que não foram para mim no mundo meu
pai foi, e essa missão é muito, mas muito expressiva pensando na imensidão de
alternativas que a vida nos presenteia.
Eu não acredito na sentença “até que a morte nos separe” em partes, porque se formos adentrar na espiritualidade temos a certeza que não existe
separação, porque nunca, em hipótese alguma conseguiremos apagar todo o amor que
construímos nas nossas relações com os que já partiram, podemos matar muitas
coisas, mas o amor verdadeiro e essencial não morre jamais tampouco aquilo que não se compra com dinheiro e que não tem preço mas imenso valor.
Então viva cada momento e cada dia como se fosse o ultimo,
porque pode ser, seja você mesmo, defenda as coisas essenciais e seus valores
pessoais, esses são raízes que importam e que não devem ser destruídas. E
lembre-se, a morte é o começo de outra vida para quem vai, é a adaptação para
quem fica e um ensaio de grandiosas memórias que passamos os anos lutando para
que não se apaguem.
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