Diz o ditado que os gatos tem
sete vidas mas ninguém nunca disse quantas vidas um humano tem, o que se sabe é
que a vida é um sopro e como dizia minha bisavó: para morrer basta estar vivo.
Eu não sei quantas
vidas já gastei ou tive a oportunidade de renascer, posso contar nos dedos as 4
vidas que eu já perdi: acidente de carro com meu pai por volta dos 12 anos,
adolescente suicida que nunca teve coragem de acabar com a vida, choque
anafilático, vezes que eu quase morri e nem percebi, isso acontece com todo
mundo, e se você acredita em anjo da guarda, sabe que alguns trabalham mais que
os outros, ser humano é bicho esquisito e difícil de cuidar.
Minha ultima
experiência de quase morte foi um atropelamento em plena Av. Rebouças na capital
paulista pós um dia comum de trabalho.
Sabe aquele dia que
você só quer acabar o expediente e ir para casa dormir? Um dia normal,
habitual, sem muitas emoções. Você passa a tranca na porta do seu trabalho após
acionar o alarme e só vai para casa.
Eu confesso, estava
com pressa de chegar em casa, e não sei porque, não estava apertada para ir ao
banheiro tampouco doente. Estava apenas com fome e pressa.
Dizem que mais de 90%
dos atropelamentos são de pessoas apressadas, eu estava nestes 90. Parei na
faixa, eu posso ser doida às vezes, mas sou consciente, ajudo os com mobilidade
reduzida ou idosos a atravessarem a rua, sinceramente eu nunca achei que seria
atropelada, na real a gente nunca acha nada. Eu ali parada na faixa vejo meu ônibus
que me deixa perto de casa se aproximando, quarta feira as 20:30, aceno para o
motorista que não me vê ou faz que não me vê, o sinal está verde para os carros,
e eu ali, torcendo para ficar vermelho pros automóveis e eu pegar meu ônibus,
interagi com uma moça que também esperava para atravessar, ficou amarelo, eu
olho o farol, a direita, olho os carros a esquerda, e estou livre, saio correndo
igual um animal prestes a ser caçado. E foi ai que tudo aconteceu, que a morte
tentou me carregar pro limbo.
Eu acordei com um
rapaz me fazendo um monte de perguntas, sangue escorrendo no meu rosto e só
lembro de ter destravado com a digital meu celular para ele avisar meus pais
enquanto uma linha e uma agulha costuravam a minha cara. Apaguei de novo e só
acordei vomitando dentro de um quarto de hospital
Por lá fiquei por duas
semanas, 9 dias de UTI, e o restante num quarto.
Acredite, fiquei dias
vegetando, e quando acordei naquela UTI eu tive o contato com um terço do
inferno, e não foi legal.
Depois acordei no dia
seguinte com meus pais chegando perto de mim depois de viajar a noite toda de um estado pro outro. Como sou grata pela minha família. Minha mãe me contou que a moça
que estava do meu lado no farol que foi um dos anjos que me salvou. Segundo
ela eu atravessei, um carro me pegou, eu bati a cabeça, rodopiei pro outro lado
e amassei toda a lateral do carro, e por raridade, sorte ou Deus, não morri
tampouco quebrei membros. A médica disse que eu apaguei e que ela caiu para
cima com os primeiros socorros porque eu desmaiei e dizem que quem bate a
cabeça não deve dormir. Pergunta se eu lembro de alguma coisa?
Sendo sincera eu não
sei nem qual a cara de quem me socorreu tampouco onde mija a galinha. Só tenho gratidão, pois estatisticamente falando, qual a chance de ter um médico na hora de um atropelamento grave?
Onde eu quero chegar com
esse texto imenso?
Quero te dizer amigo
leitor que não somos nada ao mesmo tempo
que somos tudo. A vida é uma surpresa e um mistério, às vezes a gente não se dá
com alguém da família apenas por sermos incompatíveis, mas há algo que nos
torna inseparáveis: o sangue e a própria família. Então, não importa como, você
precisa aprender a lidar e cada vez menos odiar.
Por isso não deixe de
se declarar se você ama alguém, não deixe de perdoar se você guarda algum
rancor. Se perdoe também, você merece. Como? Não sei, apenas tente, ate conseguir, seja um brasileiro, não
desista nunca. Não deixe de exercer a empatia consigo mesmo quando estiver errado,
e com os outros que você se relaciona na vida ou no trabalho. Exerça a
competência e a responsabilidade sócio emocional. Abuse da responsabilidade afetiva nas suas relações, independente da duração que elas tenham. Dance, cante, aprecie aqueles
que te apreciam, invista tempo dando carinho e atenção aos seus, não perca tempo com quem não te valoriza, extravase amor, ele
nunca te fará falta se for verdadeiro, contemple a natureza, se pergunte porque
o céu é azul de dia e azul escuro de noite ou preto com estrelas brancas, se
pergunte porque as três Marias, aquelas estrelas, não são quatro ao invés de três. Sorria, tente
entender aqueles que você não aprecia, graças a eles você diferencia a noite do
dia, como seria a vida se todos fossem idênticos a nós. E lembre-se, a vida é
muito grande para ser pequena. Guarde o passado bom com saudade, o ruim jogue
fora, espere o futuro com fé esperança de que sempre o bem chegará, e viva o
presente como nunca, porque quando a vida acabar, e ela pode acabar a qualquer
momento, os outros poderão falar o ser humano incrível que você se tornou.